Depois de um período de paragem devido às condicionantes pandémicas, a Feira das Trocas e a sua moeda social, o tear, voltaram finalmente ao Jardim Público da Covilhã, no dia 26 de junho.
Um espaço de festa, partilha, convívio e sensibilização por uma economia mais solidária, que permite valorizar os saberes da comunidade e contou com os mais variados produtos locais e artesanais e um programa que incluiu música, workshops, espaço de brincar para as crianças, entre outros.
Esta feira é uma oportunidade para promover a economia local e os produtos ou serviços da região, para valorizar a grande diversidade de saberes que a nossa comunidade possui e para reflectir sobre os nossos hábitos de consumo. Mais uma vez, não houve euros a circular. Os teares são a única moeda e podem ser encontrados no local.
Chama-se Troca-a-Tod@s e é uma iniciativa que inclui uma loja de produtos locais no centro da Covilhã, uma oficina de aprendizagem coletiva e um grupo solidário de consumo.
Esta iniciativa, dinamizada pela CooLabora desde 2014, nasceu como ponto de encontro entre pessoas com situações diversas: desempregados que se entreajudam coletivamente, sobreviventes de violência doméstica a reorganizar a vida, jovens com trabalhos precários e pessoas inconformadas com os padrões de uma sociedade consumista e ecologicamente insustentável.
A este núcleo inicial foi-se juntando gente muito diversa entre si, como agricultores locais, artesãos, pessoas que procuram formas de consumo mais sustentáveis, mas também muitas organizações locais, ligadas quer à ação solidária quer a questões ambientais ou culturais.
O objetivo central, desde o início, foi criar coletivamente soluções solidárias, capazes de contribuir para o escoamento de microproduções locais e de valorizar as pessoas e os seus saberes, que são bastante mais vastos do que aqueles que fazem parte da profissão que se perdeu ou do emprego para que supostamente se estudou, mas que não se consegue alcançar.
Desde 2014 até ao surgimento da pandemia, o Troca-a-Tod@s organizava trimestralmente feiras de produtos locais, com pequenos produtores e produtoras de bens e serviços que eram simultaneamente uma oportunidade de troca, de comercialização e de festa.
No Troca-a-Tod@s não circulam euros: as transações são mediadas por uma moeda social, o tear, que permite superar as limitações da troca direta. Se as pessoas que visitam a feira podem trocar euros por teares para fazerem as suas compras (1€ tem o mesmo valor que 1 tear), no final das feiras, quem quiser trocar os teares que recebeu por euros sofre uma pequena penalização de 5%, porque o objetivo é fomentar as compras em rede.
As feiras não são apenas um espaço de divulgação e de comercialização de produtos tão diversos como legumes, pão, mel, artesanato em lã, brinquedos de madeira, sabonetes artesanais, bijuteria, bolos caseiros, entre muitos outros. Cada iniciativa é também uma festa, com oficinas de partilha de saberes como, por exemplo, fazer cosmética artesanal ou cozinha vegetariana.
Há também um programa de animação construído com as propostas de todos e todas: danças tradicionais europeias, yoga, pintura, etc. ao qual se aliam debates promovidos por organizações da comunidade, frequentemente ligados a questões ambientais. Se é importante vender, não é menos relevante criar um espaço de pertença à comunidade e de convívio, que cimenta as relações solidárias que se estabelecem. Para além das feiras, há desde o início um grupo no Facebook, com mais de 500 participantes.
A pandemia trocou as voltas à CooLabora e aos 35 pequenos produtores e produtoras. Surgiram grandes dificuldades na realização destas feiras, agudizou-se a situação económica e cresceu a preocupação face ao escoamento dos produtos locais. Foi neste contexto que surgiu a oportunidade de apoiar diretamente estes produtores e produtoras através do apoio financeiro, mediante apresentação de proposta, resultante da extinção da Associação Nacional de Direito ao Crédito, que permitiu dar um novo fôlego ao trabalho que se estava a realizar, com o reforço do apoio aos membros do grupo, nomeadamente no que diz respeito à comercialização de produtos e serviços, à interlocução com o sistema legal-fiscal e à formação dos seus membros.
Estes pequenos negócios, que algumas vezes são a atividade económica mais relevante de uma família, e outras um complemento dos seus rendimentos, envolvem pessoas que frequentemente não fazem parte do mercado convencional e que, perante uma cultura que privilegia as coisas de grande dimensão e tende a uniformizar, têm dificuldades acrescidas em conseguir apoios institucionais, sejam financeiros ou outros.
A abertura da loja, a criação de um espaço oficina e a consultoria em design, gestão ou formalização dos negócios permitiram manter o grupo muito ativo e mostram como estas soluções ditas “micro” podem ter um papel “macro” na vida de pessoas e famílias, sobretudo em momentos de crise como o que agora vivemos e quando se assiste a uma degradação vertiginosa das suas condições materiais de vida, devido à redução brusca de rendimentos do trabalho.
A recessão económica, que leva cada vez mais pessoas a depararem-se com a escassez de dinheiro para fazer face às suas necessidades quotidianas, mostra como estas pequenas iniciativas que dinamizam a economia local fazem efetivamente a diferença.