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A criatividade nas ruas da cidade

Luís Nogueira
Presidente do Departamento de Artes da UBI, onde é Professor Auxiliar.

PS03 Design, Cultura e outras Artes


Existe uma cultura do design? Uma cultura antes e depois do design? Uma civilização do design? Conseguimos imaginar uma cultura sem design ou um design sem cultura?

E onde está a arte do design? Podemos falar de uma arte pré e uma arte pós design? E uma poética do design, existe? Quais os seus princípios, os seus limites, as suas possibilidades? Claro que existiu um mundo – milenar, por sinal – sem design. E, no entanto, se é possível pensar ou imaginar um mundo sem design, esse não será, não é, não pode ser, o nosso mundo.

E porque precisamos de design? Porque vivemos. Mas, sobretudo, porque fazemos coisas e usamos coisas para fazer outras coisas. Na realidade, quanto mais nos afastamos da natureza mais precisamos do design – aliás, poderíamos dizer que o design começa quando nos separamos da natureza e aumenta quanto mais dela nos distanciamos –, sempre em busca da ação perfeita, da solução completa, da vida plena.

Uma arte do mínimo? Less is more, diz Van der Rohe. Do custo mínimo? More for less, segundo Buckminster Fuller. E o design: mera utilidade? E o ornamento: um crime? Como sabemos de Oscar Wilde: all art is quite useless. Seria aqui que os siameses – design e arte – se separariam? Menos forma e mais função, e teríamos design? Mais forma e menos função, e teríamos arte? E depois do design, o que aconteceu à arte? Nas artes pós-design, onde está o design? Talvez no sound design, no production design, no game design, no character design, no narrative design, no level design, no speculative design, no exhibition design, no interface design, no design de moda, no design gráfico, na design fiction. Ou no human design, nova iteração dos mitos primordiais da criação: Deus e Adão ou Pigmalião e Galateia.

Em tempos falava-se de poéticas, hoje falamos de processos criativos e metodologias projetuais: refletir, envolvendo especialistas, estudiosos, docentes e investigadores; criar, envolvendo estudantes, autores, artistas e colaboradores. Em think tanks, talks, laboratórios, estúdios, estruturas, exposições, palestras, conferências, ciclos, instalações, prospeção, incubação, disseminação, co-work, festivais, oficinas, manifestos, protestos e muito mais.

Por princípio, a atenção ao local é imperativa nesta candidatura. Mas não se pode olhar apenas para dentro. Um olhar global é imprescindível. Portanto, precisamos: criação local com impacto global. Dito de outro modo: o digital vernacular ao lado do artesanal cosmopolita.

E como seria se um dia, por um dia, todas as parcerias acontecessem em simultâneo? Se os cursos da UBI, as associações culturais, as escolas, todas as entidades, todos os cidadãos, saíssem à rua e celebrassem o design, as artes e a cultura por um dia, um só dia que fosse? E se a cidade se transformasse num gabinete de curiosidades, numa base de dados, num atlas mnemónico, num multiverso e numa heterocronia? Que cidade criativa seria.